Segundo pesquisa brasileira, diagnóstico pode demorar mais de 8 anos
Um estudo publicado esse ano, no Journal of Pediatric & Adolescent Gynecology, apontou que a endometriose é a principal causa da cólica menstrual (dismenorreia) e da dor pélvica crônica em adolescentes. Porém, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a endometriose em adolescentes pode ser diferente do quadro clínico visto nas mulheres adultas. Como consequência, pode haver atraso no diagnóstico e no tratamento da doença.
Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada no Brasil, com mais de 3 mil mulheres, apontou que mais da metade das entrevistadas recebeu o diagnóstico, em média, em 8 anos. A média mundial é de 7 anos. A pesquisa foi realizada pelo ginecologista Dr. Edvaldo Cavalcante, em parceria com o Gapendi (Grupo de Apoio a Mulheres com Endometriose e Infertilidade).
Cólica incapacitante não é normal
Segundo o ginecologista Dr. Edvaldo Cavalcante, cirurgião especializado no tratamento da endometriose, a dor pélvica é o principal sintoma da endometriose. “Essa dor pode se manifestar de diversas formas, como cólica menstrual intensa e incapacitante, dor pélvica crônica, alterações intestinais e urinárias, bem como infertilidade e dor na relação sexual”.
“Essa pesquisa, que na verdade é uma revisão de diversos estudos, mostrou que dois terços das mulheres apresentam sintomas antes dos 20 anos de idade e uma em cada cinco apresenta dor antes dos 15 anos. Essas observações confirmam o que vemos no consultório. Entretanto, não é comum diagnosticar endometriose em adolescentes porque costumam pensar que a cólica menstrual é comum”, comenta Dr. Edvaldo.
Como a doença é progressiva, as mulheres acabam procurando o médico quando o quadro já está mais avançado. “Infelizmente, muitos médicos ainda reforçam que a cólica menstrual é algo dentro do esperado. Entretanto, a cólica incapacitante não é normal e deve ser investigada por um ginecologista, principalmente se surgir nos primeiros anos da menstruação”, explica o médico.
Muito além da cólica
Estima-se que a endometriose afeta de 25% a 38,3% dos adolescentes com dor pélvica crônica. O que ocorre é que nem todas as mulheres apresentam sintomas. Nas adolescentes, muitas podem ser assintomáticas ou ainda ter uma apresentação atípica da doença.
A endometriose pode causar muitos sintomas, nem sempre ligados ao sistema genital. “Sintomas urinários, como dor, perda de sangue, aumento da frequência da micção podem ocorrer. Na parte intestinal, pode haver aumento do trânsito intestinal ou constipação, dor na evacuação e sangramento nas fezes”, diz Dr. Edvaldo.
Na adolescência, a dor pélvica pode ser cíclica ou acíclica, sendo essa última não ligada ao ciclo menstrual. Ou seja, pode ocorrer em qualquer momento do mês.
Vida normal
O diagnóstico precoce é muito importante para retardar a progressão da doença. Quando não tratada, a endometriose pode levar à infertilidade na vida adulta, entre outras complicações.
“Na adolescência o tratamento visa, principalmente, à retomada da funcionalidade. Isso quer dizer que precisamos dar condições dessa menina retomar suas atividades escolares e sociais com uma melhor qualidade de vida”, reforça Dr. Edvaldo.
O tratamento deve ser adaptado para cada adolescente avaliando, extensivamente, os benefícios, riscos e alternativas, sejam essas medicamentosa ou cirúrgicas. Infelizmente, não há cura para a endometriose, mas há controle.