Uma vida sexual ativa e satisfatória é um importante aspecto da qualidade de vida. Porém, algumas patologias e condições de saúde afetam de forma considerável a função sexual, especialmente as doenças ginecológicas, como a endometriose.
Um recente estudo multicêntrico conduzido pela Áustria e Alemanha, avaliou a função sexual de mulheres com endometriose usando dois questionários validados: o Índice de Função Sexual Feminina (FSFI) e a Escala de Distúrbio Sexual Feminino revisados (FSDS). A prevalência de disfunção sexual medida por essas ferramentas foi de 32% (FSFI) e de 78% (FSDS). A pesquisa mostrou ainda que quando a disfunção foi diagnosticada, a frequência sexual diminuiu e o medo do divórcio aumentou.
Dispareunia é o principal problema
Segundo, Dr. Edvaldo Cavalcante, cirurgião ginecológico e especialista em endometriose, a dor durante o ato sexual, chamada de dispareunia, é um dos principais fatores que prejudicam a vida sexual de mulheres com endometriose e está presente em mais da metade dos casos. “A dispareunia é um sintoma particularmente preocupante, porque normalmente ocorre em todas as relações sexuais. Outro ponto é que a endometriose é um fator de risco para desenvolver essa condição”.
Um estudo publicado no Human Reproduction mostrou que a dispareunia foi reportada por 56% das mulheres; a dor pélvica crônica por 60% e a dismenorreia (cólica menstrual intensa) por 59%. O mesmo estudo demonstrou redução da qualidade de vida, assim como efeitos negativos na saúde física e mental do grupo estudado.
“A endometriose é uma doença crônica, ou seja, ela não tem cura e requer tratamento para o resto da vida. Outro ponto é que atinge mulheres jovens, com vida sexual ativa e é muito importante que os especialistas olhem também para a sexualidade das pacientes no manejo da doença”, diz Dr. Edvaldo.
Preocupação com Fertilidade
Mas, não é só a dispareunia que leva a problemas sexuais. Como a doença ocorre durante o ciclo fértil, a preocupação com a fertilidade também é um fator que pode ter impactos negativos na conjugalidade. “A impossibilidade de engravidar diminui a autoestima e dá uma sensação de falha como mulher. Além disso, muitas vezes há pressões externas para conceber, que podem vir do parceiro ou da família. Isso reduz a satisfação com a vida sexual, gera problemas no relacionamento afetivo e aumenta o risco de desenvolver depressão e ansiedade, por exemplo”, comenta o médico.
O efeito da endometriose no parceiro
E não são só as mulheres que sofrem com os efeitos negativos da endometriose. Um estudo recente, publicado no Human Reproduction, confirmou que a endometriose afeta também o parceiro. Os resultados mostraram que mais da metade dos homens cujas parceiras têm endometriose relatam que o sexo é raro ou não existe. A pesquisa mostrou ainda que a endometriose atinge a vida sexual, a intimidade, o planejamento familiar, a vida profissional de ambos e a renda familiar. O estudo revelou também que homens cujas parceiras têm endometriose se sentem impotentes para ajudá-las, frustrados, preocupados e zangados.
“Não há dúvidas que é preciso olhar com mais atenção a sexualidade das mulheres com endometriose. A dispareunia associada à doença pode gerar medo, insegurança, evitação e problemas no relacionamento afetivo, levando a outras disfunções sexuais. O diagnóstico e o tratamento são essenciais para controlar a dor, o que pode contribuir em vários aspectos, incluindo uma vida conjugal mais satisfatória”, conclui o médico.